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30/09/10

Razão de Ordem ou Ordem de Razões

Da primeira vez que pude votar numas eleições para a Ordem dos Advogados (vejam o meu número de cédula e façam as contas), achei que o voto por correspondência era uma maçada muito complicada e decidi ir à Ordem, ao Largo de S. Domingos, votar no próprio dia.

Num misto de sorte e azar, havia uma enorme fila para votar. A ideia que guardo é de estar uma enorme balbúrdia pelas escadarias abaixo, velhos colegas de curso que se encontravam, amigos que já não se viam há tempos, abraços, gritos de espanto e suspiros de impaciência pela demora, alguns resmungos, etc, etc.

Mas o que verdadeiramente retive desse dia foi a sensação de que éramos todos muito diferentes uns dos outros e de que havia muitos mundos dentro da Ordem, o que a transformava numa (des)Ordem, viva, vibrante, diversa e complicada.

Por isso, durante o estágio e ao longo dos anos, tenho tido sempre a curiosidade e o interesse de saber como são os outros mundos, como trabalham, onde trabalham, o que pensam, como são. Faço pouco Tribunal, mas gosto de ir aos Tribunais, trabalho em Lisboa, mas gosto de ir a reuniões fora de Lisboa, sempre trabalhei em sociedades de advogados grandes, mas tenho muitos amigos que trabalham sozinhos, ou com dois ou três colegas, ou em empresas, ou em departamentos públicos e gosto de saber como é que trabalham, como é que vivem (ou sobrevivem em muitos casos).

E pergunto-me muitas vezes o que é que nos une, para além da cédula profissional, que é obrigatória.

A resposta é “fácil”: em qualquer sítio, onde quer que estejamos, em piores ou melhores condições, fazemos contratos, petições, contestações, réplicas, requerimentos, exposições ou cartas. Argumentamos, interpretamos, discutimos, escrevemos, apagamos e voltamos a escrever. Estudamos, lemos, vemos e revemos o nosso trabalho. Indignamo-nos, reclamamos, somos contra, ou a favor, procuramos soluções, construímos ou desmontamos raciocínios. Vestimos a camisola dos nossos clientes e vamos à luta por eles.

Falamos uma linguagem comum. E, por isso, muitas vezes parecemos excêntricos aos olhos dos outros, quando discutimos com gosto um contrato, uma lei ou uma bizantinice qualquer que só nós é que percebemos.

É isso que nos identifica, o que somos em comum.

Por isso todos nos sentimos ofendidos quando “os Advogados” são criticados e desvalorizados. E todos nos sentimos orgulhosos quando um de nós se distingue pela sua qualidade, profissional ou humana. Porque somos um corpo.

Pode parecer pouco. E abstracto. Mas não é. Antes é o nosso ponto de partida e de chegada. E é a inspiração para fazer parte desta equipa que quer lembrar todos os dias aos Advogados que o são e fazê-los ter gosto nisso, quer porque de facto contribui para o melhor exercício da profissão de cada um de nós, conhecendo as necessidades distintas de cada “mundo”, quer porque contribui para uma melhor Ordem dos Advogados no seu todo.

Rita Maltez

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