Retirado da Biblioteca da nossa Ordem, um texto antigo, porque não é preciso inventar coisas novas. Aqui fica uma última mensagem, a juntar às outras, como último elo do nosso ADN:
Do Capítulo XLV:
“Sem dúvida nós, todos os mortais que vivemos neste miserável mundo, estamos sujeitos e expostos a mil perigos e calamidades. Mas, neste capítulo, pareceu-me consentâneo tratar dos perigos especiais dos advogados, para que eles se possam precaver melhor. Para tanto, darei algumas regras, pois desejo uma vida suave aos nossos patronos (…). No meu entender, o primeiro e capital perigo dos advogados é a avareza, por causa da qual alimentam às vezes causas injustas (…). O segundo perigo dos advogados é aquela nunca assaz deplorável miséria de que fala o Eclisiastes (…). Ó coisas mal adquiridas pelos advogados! O que mal se adquire mal se vai (…). Acumulai tesouros, bons advogados, no Céu, onde não entra a ferrugem; servi-vos de coisas adquiridas com justiça (…). O terceiro perigo dos advogados é a adulação, com que muitíssimas vezes iludem os clientes, anuindo aos feitos deles e defendendo acções inteiramente terríveis ou péssimas contra a verdade (…). Fala livremente e, se o cliente não procede bem, aconselha-o a desistir, e não receies reprová-lo. Louvar tudo, tanto o que está mal, como o que está bem, não é próprio de um homem prudente e honesto (…). O advogado também corre o perigo da honra, quando perde uma causa que por considerar justa aconselhou ao seu cliente (…). Um dos grandes perigos dos advogados também está no actual costume de os patronos se atacarem e injuriarem uns aos outros (…). Defenda cada um, quanto puder, a sua parte, mas não ofenda o patrono adversário, porque o litígio não é entre os advogados, mas entre as partes (…). A pobreza também costuma ser hostil aos nossos advogados, porque às vezes mesmo os mais talentosos não adquirem o necessário (…). Quando o advogado é pobre e não ostenta uma biblioteca sumptuosa, afastam-se dele com certeza; os homens apenas seguem a riqueza e a prosperidade (…). Supõem os homens que, sendo tu pobre e necessitado, não podes dar frutos ubérrimos. Mas então? Procurais no advogado dinheiro ou ciência? Se o primeiro, correi para os mercadores; se a segunda, que para mim está sempre em primeiro lugar, entrai em casa do patrono pobre e muito necessitado (…). A terra sem dúvida tanto se abre para o pobre como para o rico. Os ventos agitam mais vezes os pinheiros altos, e as torres desabam com maior fragor. Nas dificuldades sê forte e animoso.”
Do Capítulo XLVIII:
“O sossego é muito útil às artes e ao direito. O advogado deve estar afastado dos barulhos exteriores e ruído dos artífices (…). Ora este privilégio é-nos concedido, porque no nosso estudo reside utilidade pública (…). Por conseguinte o terrível artífice que martela perto das escolas e dos nossos advogados, poderá de certeza ser afastado (…). Afastem-se, pois, de nós os perturbantes artífices, principalmente os que trabalham com horrível gritaria e enorme ruído (…). Quem pois, dentre nós poderá suportar estes barulhos? (…) Eu, graças a Deus, vivo afastado dos artífices mas sou inquietado por mariolas que cantam e dançam junto ao limiar das casas. Fazem gala em esgotar espúmeas taças e em se ensoparem em copos transbordantes, saltando depois ao som de paupérrimas violas e dos sestros pátrios (…). Portanto, segue-se do exposto que, quando não podemos morar comodamente noutro lugar, o terrível artífice deve ser afastado (…) e, mesmo, quando o artífice precede o advogado, mas pode habitar noutro sítio, digo que temos a preferência (…) E o mesmo se verifica em impedimentos semelhantes, como maus cheiros, importunos toques de sinos, e vozearia hostil (…). Deus nos conceda a tranquilidade, para podermos trabalhar neste mundo e nos dê casa apta para o estudo, pois é precisa ao advogado. No dizer dos Doutores, a casa do advogado é oráculo de toda a cidade, remédio dos pobres e algumas vezes precioso alívio dos ricos”.
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